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O Grupo ALPH@ de Pesquisa teve sua origem em desafios apresentados pela apropriação das tecnologias por alunos da graduação e pós-graduação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo ainda em 1987. Surgiu para atender demandas solicitadas pela Reitoria da Universidade na formação de seus recursos humanos, à época denominados servidores e funcionários do campus São Paulo. A proposta era alfabetizar jovens e adultos distribuídos em 36 instituições e/ou unidades. Para atender exigências administrativas e burocráticas foi constituído o NEAUSP (Núcleo de Educação de Jovens e Adultos) e, no seu interior, o Grupo Alph@ de pesquisa acadêmica. Sua composição envolveu os chefes de departamentos da unidade FEUSP, a saber, prof. Dr. Celso de Rui Beisiegiel (EDA), prof. Dr. Moacir Gadotti (EDF) e prof. Dr. João Teodoro D’Olim Marote (EDM), e fomos eleita a coordenadora científica do mesmo. O eixo norteador de suas pesquisas seguiu o movimento histórico em torno da multidimensionalidade do fenômeno educativo, no momento histórico da inserção de computadores em todas as unidades da USP. Alfabetizar seus funcionários supunha preparo da Faculdade de Educação, não somente para leitura e escrita convencional, mas também tarefa acrescida de letramento digital. O Grupo assumiu a responsabilidade de elaborar projeto para atendimento da escolaridade dos funcionários de todo campi USP (São Paulo, Ribeirão Preto, Piracicaba, São Carlos, Bauru e Santos) existentes na época. Tal projeto configurou-se no tripé da universidade: ensino, pesquisa e extensão. Envolveu trinta bolsistas da graduação pela reitoria, trinta bolsistas com Bolsa-trabalho pela Coordenadoria de Saúde e Assistência (COSEAS) e alunos dos cursos de pós-graduação da universidade. Houve adesão espontânea dos docentes em todas as unidades da universidade, tanto no apoio acadêmico aos bolsistas quanto na atuação de estudos e pesquisas. Houve extensões do projeto para o Programa Alfabetização Solidária em todo Brasil e para todos os funcionários da Cia Nestlé do Brasil, em convênio firmado com a FAPESP e FINEP. O Programa Alfabetização Solidária, sob coordenação da Profa. Dra. Ruth Cardoso, manifestava como objetivo reduzir os índices de analfabetismo do país, focalizando nos jovens de 12 a 18 anos. Em 1997, priorizava os municípios com taxas de analfabetismo superiores a 55%, localizados nas regiões norte e nordeste. Em 1999, atingiu os Grandes Centros Urbanos e, em 2002, as regiões Centro-Oeste e Sudeste. O Grupo Alph@, em parceria com a Cia Nestlé do Brasil, FINEP E FAPESP, teve seis anos de duração e foi constituído como grupo de estudos acadêmicos pela Universidade de São Paulo e Faculdade de Educação. Ao longo de sua trajetória realizou consultorias e assessorias sobre alfabetização e formação de professores das redes municipais, estaduais e professores leigos em vários estados brasileiros que aderiram ao programa de nível nacional. Uma das contribuições do Grupo Alph@ foi a luta para alteração de algumas caraterísticas consideradas inovadoras naquele programa de alfabetização, tais como: parcerias com empresas, duração dos módulos, mudança de alfabetizador após seis meses de desempenho, utilização de alfabetizadores leigos, entre outras. Os pesquisadores do grupo tiveram condições de realizar viagens mensais até os municípios, durante seis anos apoiados por sua idealizadora Profa. Dra. Ruth Cardoso, pela universidade e pelos parceiros das empresas. Foram realizados muitos estudos e discussões que só poderão ser entendidos se o Programa for considerado a partir do seu contexto histórico, cujo formato não respondia à lógica educativa posta por teorias pedagógicas requeridas nas capacitações dos professores envolvidos. Foi por indicação dos estudos do Grupo Alpha, entre outros, que a Editora Abril ajudou a montar um display com 20 livros da literatura brasileira que foi enviado para mais de setenta outras escolas do Programa, incluindo o Almanaque Abril, dicionários, revistas etc. Para os participantes do Grupo foram valiosos os estudos sobre alfabetização de jovens e adultos ora trabalhadores agrícolas, ora funcionários de empresas, ora moradores das cidades, ora brasileiros sem nenhuma escolaridade. Onde foram envolvidos em número elevado, não apenas pessoas da terceira idade e, sim, crianças e jovens sem oportunidades educacionais presentes em seus contextos. Foi durante este período que criamos o Sistema Transversal de Ensino-Aprendizagem, sistemática de planejamento dos episódios-aula registrados como apoio pedagógico aos professores e alunos da Educação Básica (Cursos de EJA, Ensino Fundamental I e II e Ensino Médio) em Fichas Temáticas que contemplavam acesso remoto, Educação a Distância e acesso digital. A grande motivação representou a idealização de material de apoio aos professores que pudesse manter as recomendações da legislação de educação brasileira, o desenvolvimento de habilidades e sistemática de avaliação a cada episódio-aula. Tais estudos aproximaram muitos estudantes dos cursos de graduação, especialização, extensão e pós-graduação onde muitas teses e mestrados foram desenvolvidos. Responderam igualmente a outra lógica: a da valorização da experiência, tanto dos alunos quanto dos professores, muito importante no sucesso de qualquer tarefa educacional, principalmente no caso da alfabetização, que necessita não apenas de um professor experiente, mas, também, especializado em educação de adultos, população com características diferentes das crianças. Posteriormente, fomos escolhidos como representante da USP no Programa Um Computador por Aluno. Em 2005, o projeto OLPC foi criado por pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT) liderados por Nicholas Negroponte, que veio neste mesmo ano junto a Seimour Papert e Mary Lou Jepsen expor a ideia para o governo brasileiro. Nesse mesmo ano foi instituído grupo interministerial, envolvendo os Ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia, incumbido de avaliar os aspectos técnicos e pedagógicos da proposta da OLPC (One Computer per Child) que teve o Grupo Alph@ como representante da USP. Em 2007, foi iniciado o programa denominado PROUCA, em cinco escolas brasileiras, nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Tocantins e Rio de Janeiro. Foram doados para a FEUSP 700 laptops, e muitos obstáculos forneceram subsídios para discussão sobre a infraestrutura das escolas, a aquisição de mobiliário, a formação de professores e o uso das tecnologias digitais com intencionalidade educativa, além de acesso à internet sem fio, assegurado. Os objetivos eram a projeção, fabricação e distribuição de laptop a custos reduzidos com fins educacionais (denominado laptop XO), a fim de garantir que um maior número de alunos da escola pública tivesse acesso à TDIC (Tecnologias Digitais de Informação e de Comunicação). Foi essencial trabalhar em conjunto com os participantes a busca documental de teses e dissertações com temáticas relacionadas ao uso de laptops educacionais no PROUCA, em bancos de teses da CAPES e na Biblioteca Brasileira Digital de Teses e Dissertações (BDTD). Tal investimento foi ampliado para outras fontes, cujos resultados compõem mais de 20 teses defendidas na FEUSP e em outros institutos de origem do participante do Grupo Alpha. Um dos resultados do PROUCA foi o aumento de pesquisas acadêmicas sobre uso de computadores na escola com as parcerias que foram feitas no PROUCA. Muitas oportunidades neste cenário transdisciplinar culminaram em investigações, diagnóstico e diagnose, análises e propostas de diferentes situações em que a Educação do século XXI culmina em era de incertezas percebida por nova cultura, desafios e valores. Digital Literacy, compreendido por muitos no Brasil como Alfabetização Digital, inspirou inúmeras teses de participantes do Grupo Alpha. No desenvolvimento acelerado das novas tecnologias, o Grupo defendeu a escola não somente como local para desenvolvimento de habilidades de escrita e leitura, mas de diferentes letramentos. Esta escola nas últimas décadas não acompanhou as mudanças advindas do uso das TDIC desconectadas da aprendizagem escolar e ligadas a um processo de produção e de sentidos. No tocante aos desafios deste cenário da pesquisa, a ideia principal do Grupo Alph@ continua desde sua origem (1987) tendo, em sua imersão primeira, a oportunidade de se aproximar da prática, afastar-se dela para reflexão com outros autores e retorno a ela com alternativas que possam inspirar políticas públicas na área. E, vale lembrar, a urgência de formação dos futuros professores, dos alunos da graduação e pós-graduação em Educação em estudos sobre o letramento digital, pois máquinas não fazem educação de per si. Este livro denominado GRUPO ALPH@: origens, estudos e raízes, tem por objetivo o compromisso de apresentar alguns dos estudos realizados e que foram base para discussões das teses que geraram. O intento é contribuir para o debate em termos de lidar com a presença das TDIC na sociedade e na escola diante da diferenciação presente e como forma de mantermos vigilância ética e epistemológica dos estudos e discursos realizados. As teses e mestrados orientados por profa. Dra. Stela Conceição Bertholo Piconez e defendidos pelos participantes do Grupo Alpha podem ser acessados eletronicamente pelo Sistema de Bibliotecas USP (SiBiUSP). A leitura dos mesmos deve ser acompanhada do contexto histórico (cada um durante 8 anos) à época de sua elaboração e em relação a presença das TDIC em sua rápida evolução. Durante tantos anos tivemos a oportunidade de estudar que a aprendizagem diante das telas digitais requer um interlocutor participativo, colaborativo e compromissado com sua autoria. Nesse cenário, com crescimento exponencial de gerações, a escola e os professores representam interfaces que motivam a dinâmica cognitiva e comunicacional de inúmeros conteúdos e hipertextos abertos. Este livro apresenta algumas das imersões na prática da educação escolar com uso das tecnologias digitais de participantes do Grupo Alph@. Com certeza, pode criar inspirações que rompam com tradicionais esquemas unidirecionais de transmissão de conhecimentos, no sentido da inclusão digital de informação e de comunicação. Registra contribuições valiosas. Suas organizadoras, Stela Conceição Bertholo Piconez, Josete Maria Zimmer e Maria Raidalva Nery Barreto, atentas ao novo cenário sociodigital da Educação como um todo, reuniram investigadores do Grupo Alph@ sempre atentos à construção e reflexão, imersão e aplicação, muitas delas com significado de inovação. Para os tempos atuais, com enormes desafios para o desenvolvimento dos estudantes, não é sem razão que este livro vem, em meio digital, registrar, agregar tendências e reforçar linhas de investigação com questões problematizadoras, que por si mesmas podem ter importância e continuidade de estudos. O Grupo Alph@, desde 1989, faz reuniões mensais presenciais e online; 35 anos depois, interrompeu suas reuniões mensais, agora somente virtuais, justificadas pelos protocolos de segurança da saúde. |