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Diante do que podemos nomear como uma crise de linguagem que povoa e corrói nosso laço social, num Brasil que vê autoridades públicas minarem a diferença inassimilável que sustenta a estrutura simbólica e organiza aquilo que compartilhamos como realidade, urge que possamos voltar nosso pensamento para os efeitos concretos que os modos de operar a linguagem produzem, seja na subjetividade das gerações que formamos, seja no mundo que estamos por lhes legar. Neste artigo, buscamos, ao recuperar elementos da psicanálise freudiana e lacaniana – e a concepção de linguagem que lhes dá sustentação –, articular uma reflexão crítica sobre as incidências de operações sobre a linguagem – e sua transmissão – no desenho do mundo que compartilhamos. A revisita ao trabalho de Klemperer sobre a linguagem do Terceiro Reich e ao romance de George Orwel, 1984, permite ao texto relacionar operações sobre a linguagem e a memória com a estruturação de um laço social que prima pela produção do sentido único posto a serviço de poucos. Como forma de atualização desse debate, o artigo retoma fatos do Brasil recente que fornecem uma imagem do mecanismo que o texto busca problematizar. O trabalho acaba por apontar para a urgência de zelar pela abertura inventiva da linguagem de forma a restituir seu pulsar polissêmico e indica o fazer da poesia como um guia possível ao ensino que busca essa restituição. |