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Ao percorrer o conceito de devir na obra de Gilles Deleuze e, mormente, após seu encontro com Félix Guattari, sentimos que este, dado à sua crescente abrangência e dinâmica cada vez mais ramificada, caminha sentido uma nova noção de imagem como produção de singularizações as quais despossuem o homem de seus limites organizacionais em forças anômalas. Em um texto decisivo, 1730 – Devir-intenso, devir-animal, devir-imperceptível… encontramos a reapropriação da noção de anômalo, oriunda dos escritos de Georges Canguilhem, para construir o elo entre o devir-animal e os grupos (ou povos) minoritários – oprimidos, proibidos, revoltados, periféricos –: traço nevrálgico para pensar o cinema de Pedro Costa. Porém, é em conexão com Maurice Blanchot que essa dimensão problemática da experiência do devir ganha fôlego e dá consistência a uma dobra comunitária. Não se trata mais do anômalo solitário, como borda da matilha, mas do comum impróprio como dobra em individuação. Deleuze em ao menos dois momentos chega a remeter-nos a uma possível relação entre devir e comunidade, mas pouco a explora. Num primeiro momento, em Cinema II: A Imagem-Tempo, ao tratar dos filmes de Jean Rouch e Pierre Perrault, e, mais adiante, em seu ensaio Bartleby, ou a fórmula. Tendo isso em vista, é no arranjo entre seu pensamento (e de Guattari) e o de Blanchot que desenvolveremos uma linha capaz de dar expressividade filosófica à experiência arrebatadora que o cineasta Pedro Costa nos apresenta em seu filme Juventude em Marcha. No filme, seguimos uma personagem, Ventura, a qual, sem deixar de operar uma individuação excepcional, jamais cessa de desfazê-la em linhas afecto-comunitárias. Assim, entre a escrita, a voz e a imagem, na penumbra de espaços e tempos díspares, encontramos a atualização de comunidades mínimas, as quais revelam sua força imprópria e, portanto, não identitária. |