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Lourenço Mutarelli é um autor que transita entre os gêneros e mesmo entre a linguagem verbal e pictórica. Em seu livro Quando meu pai se encontrou com o ET fazia um dia quente (2011), Mutarelli escapa dos quadrinhos que o consagraram e apresenta um livro “memória” cheio de “falsas” fotografias que conta sobre um tempo passado e irreal. Nesse falseamento da lembrança, encontramos uma insistente reprodução da figura paterna. O pai é repetido e distorcido nas imagens do livro, imagens desencontradas, borradas e inconsistentes como uma falsa recordação de um encontro alienígena. A repetição da figura paterna proclama um desejo de rememoração e fixação de sua materialidade, ou seja, o artista busca conservar e isolar esta imagem do lugar e do tempo de sua “real” aparição (BERGER, 1982). Neste procedimento, o trabalho de Mutarelli dialoga com a especificidade da imagem enquanto memória e receptáculo do anseio por permanência e negação da morte. Partindo destes pressupostos, pretende-se verificar como se dá a construção deste personagem no desenvolvimento da obra e como ela evoca o processo essencial da temporalidade da imagem, que só possui realidade na medida em que remete para conhecimentos e valores previamente adquiridos, ou seja, rememorados (FRANCASTEL, 1998). |
