Encefalopatia desmielinizante difusa pós-encefalite herpética na gestação: um relato de caso

Autor: Maria Carolina Araújo dos Santos Giffhorn, Diego Esteves dos Santos, Lisieux Adriene Fritsch Xavier
Rok vydání: 2020
Zdroj: Jornal Brasileiro de Ginecologia.
DOI: 10.5327/jbg-0368-1416-2020130273
Popis: Introdução: A encefalite herpética (EH) é uma doença inflamatória caracterizada por acometimento agudo do parênquima encefálico, causada pelo herpes-vírus simples. A tríade clássica de apresentação é composta de febre, cefaleia e alterações comportamentais. O tratamento é realizado com antivirais, sendo o aciclovir o mais utilizado. Uma de suas possíveis complicações é a encefalomielite desmielinizante aguda (ADEM), a qual se manifesta por meio de febre, alterações neurológicas e disfunção da medula espinhal. Tipicamente, ocorre de 2 dias a 4 semanas após o evento infeccioso. A terapêutica se baseia em medicações anti-inflamatórias e imunomoduladoras. A incidência da EH em gestantes é incerta e raramente reportada, podendo ser mais grave em tais casos. Em razão da alta mortalidade e do prognóstico obscuro, é imprescindível que se faça o reconhecimento de ambas as patologias, bem como a instituição do tratamento precoce. Objetivo: Descrever um caso de ADEM pós-EH manifestada durante a gestação. Descrição do Caso: T.C.E.C., 22 anos, primigesta, idade gestacional de 20 semanas, procurou atendimento por queixa de cefaleia de forte intensidade, sem alterações neurológicas. Foi realizada coleta do líquor, cujo resultado foi sugestivo de processo infeccioso viral, além de ressonância magnética (RM) de crânio, a qual evidenciou dois aneurismas saculares em carótidas internas. Foi iniciado tratamento com aciclovir EV e pulsoterapia com metilprednisolona. A paciente evoluiu com melhora clínica e teve alta hospitalar após dez dias. Retornou ao serviço em dois dias, queixando-se de vertigem progressiva, febre e cefaleia intensa. Evoluiu com queda do nível de consciência, hemiparesia à direita e alteração da fala. Foi realizada nova RM, a qual demonstrou sinais de processo inflamatório, sendo então aventada a hipótese de doença desmielinizante pós-encefalite. A ecografia obstétrica não mostrou alterações. Foi reiniciada a terapia antiviral com corticoterapia e mantido o internamento até estabilização clínica. A gestação prosseguiu sem intercorrências, até a ocorrência de rotura prematura de membranas, com 35 semanas e 6 dias de idade gestacional. Optou-se pelo parto cesárea, por desejo materno, sem intercorrências. Tanto a gestante quanto a recém-nascida (RN) não apresentaram sequelas decorrentes da EH. Resultados e Conclusão: A paciente não apresentou sequelas clínicas decorrentes da EH e da ADEM, obtendo melhora gradual e recuperação total em poucas semanas, seguindo o padrão encontrado em 70% dos pacientes com ADEM. O desfecho também foi positivo para a RN, pois entre as possíveis complicações advindas de tais patologias, como restrição do crescimento intrauterino, hemorragia cortical, microcefalia, encefalomalácia megacística, atrofia cortical e prematuridade, teve apenas a última. Por tais razões, conclui-se que a rápida presunção diagnóstica, bem como a instituição do tratamento adequado, contribuíram para a resolução favorável do quadro.
Databáze: OpenAIRE