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Em 1912, um conjunto de fragmentos de crânio, mandibula e dentes foi apresentado na Inglaterra como pertencente a um ancestral do Homo sapiens. A nova especie, batizada de Eoanthropus dawsoni – o “Homem de Piltdown” –, foi tratada como uma das descobertas mais extraordinarias da antropologia ate entao: finalmente, um hominideo havia sido encontrado em solo ingles, e seu status era ainda maior por ser uma especie da qual a nossa teria supostamente se originado. Quatro decadas depois, no entanto, a fraude foi exposta: os vestigios do Homem de Piltdown haviam sido montados a partir de um crânio humano com mandibula e dentes de orangotangos. As razoes para a aceitacao imediata da especie entre os ingleses foram, provavelmente, as expectativas e os desejos de cientistas em ter o seu pais como o berco da humanidade, e tambem o fato de que o especime de Piltdown corroborava ideias aceitas na epoca a respeito da evolucao humana. Apesar disso, como, entao, sabemos hoje que o Homem de Piltdown e uma fraude? Argumentamos que a resposta a essa questao esta no conceito de ceticismo organizado. O ceticismo organizado e um dos componentes do ethos cientifico propostos pelo sociologo Robert Merton, um elemento institucional que envolve procedimentos de avaliacao e revisao da pratica e das ideias cientificas feitas a partir de uma comunidade de investigacao. No presente artigo, examinamos como o trabalho de uma comunidade de investigacao foi fundamental para o desnudamento da farsa do Homem de Piltdown e, em um segundo momento, discutimos o que o ceticismo organizado pode nos ensinar a respeito da natureza da ciencia e de nossos proprios processos de raciocinio cotidianos. Palavras-chave: Ceticismo organizado. Natureza da Ciencia. Fraude cientifica. |