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Tendo como suporte teórico os estudos pós-coloniais, este artigo investiga a aplicabilidade do conceito de alteridade (BONNICI, 2005, p. 15) em “Beyond the Pale”, uma das consagradas narrativas de Rudyard Kipling (1865-1936). O escritor hindo-britânico, filho de pais ingleses, nasceu no ápice da Índia colonizada, testemunhando o impacto e a força do aparato imperialista inglês na região, e sua obra se tornou, igualmente, testemunha deste fato histórico. Em consonância com outros conceitos da teoria pós-colonial, que serão discutidos ao longo deste trabalho, a ideia de alteridade consegue fortalecer as explícitas denúncias sobre a violência durante a invasão de caráter colonial na Índia, cujas alterações socioculturais se fazem presentes em peso neste conto de Kipling como características narrativas centrais do autor. Ao resgatar a questão colonial da Índia – o processo instaurado durante quase 250 anos pelos ingleses –, pretendemos reinterpretar o papel da mulher indiana durante esse período, quem, protagonizada por Bisesa, parece estar relegada a uma condição social duas vezes subalterna, portanto, triplamente sem voz nem oportunidade ou direito à fala (GUHA, 1983; SPIVAK, 1988 apud FIGUEIREDO, 2010): a de nativa em uma sociedade colonizada, a de mulher em uma sociedade machista e a de viúva nesta mesma sociedade. O diálogo íntimo entre a denúncia de Kipling e a perspectiva pós-colonial de apuração das reverberações do colonialismo aguçam a necessidade de se reavaliar obras em que fica clara a exploração cultural, social, econômica e, sobretudo, mental/identitária sofrida pelas populações de países colonizados, recuperando registros indispensáveis para a compreensão do que foi na prática a investida colonial europeia, no ângulo, é claro, daqueles que foram as vítimas e a quem por séculos foi forçado o silêncio. |