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Este artigo intenta compreender, a partir da luz teórica da Análise do Discurso Pecheutiana, os gestos de interpretação para Carolina Maria de Jesus na imprensa no ano de 1960, quando a autora lançou Quarto de Despejo: diário de uma favelada. Mulher negra, mãe, escritora, moradora da extinta Favela do Canindé e catadora de reciclagem, Carolina Maria de Jesus teve sua primeira obra traduzida em 14 idiomas e vendida em mais de 40 países. No Brasil, na época do lançamento de Quarto de Despejo, Carolina era designada pela imprensa nacional ora como “a favelada”, ora como “escritora-favelada”, o que dá a ver o jogo contraditório nas interpretações sobre a autora colocadas em cena pelo/no discurso jornalístico. Examinamos os processos de designações e seus funcionamentos ideológicos em manchetes de jornais, os quais operam processos de identificação para a escritora e seu livro. Analisamos, também, o funcionamento do nome próprio e da designação “escritora negra”. As análises permitem dizer que Quarto de Despejo passa a funcionar como referência básica no imaginário constitutivo do Brasil, pois inaugura filiações de memória que permitem significar as sujeitas mulheres negras em relação com outros lugares de enunciação. |