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A relacao entre orientador e orientando e, sabidamente, assimetrica , e nao apenas do ponto de vista da experiencia profissional: em materia de relacoes de poder, a margem de manobra de que um(a) jovem pesquisador(a) dispoe para dizer “nao” a um(a) orientador(a) e, o mais das vezes, pequena, por varias razoes. Isso gera uma fragilidade da qual o(a) pesquisador(a) mais velho(a) (e influente) nao deveria, em hipotese alguma, se aproveitar. No entanto, a cada vez mais disseminada conversao de orientadores em “coautores natos” dos artigos que seus orientandos submetem a congressos ou periodicos suscita varias questoes a proposito da consistencia etica dos comportamentos profissionais em nossos ambientes academicos. Longe, porem, de pretendermos conduzir a discussao em termos moralistas, tencionamos salientar o contexto geral do produtivismo academico que vem engendrando um padrao comportamental crescentemente marcado, por parte de orientadores, por uma questionavel apropriacao de uma parcela da responsabilidade autoral, enquanto que, no que se refere aos orientandos, nao raro se nota uma dimensao de “servidao voluntaria” que leva a naturalizacao de determinadas praticas, com isso dificultando grandemente o seu tratamento critico. Por tras do proprio produtivismo, contudo, ha ainda algo mais profundo, de carater estrutural: as dinâmicas do capitalismo contemporâneo, e em particular as caracteristicas do neoliberalismo e seus efeitos sobre as instituicoes de producao de conhecimento cientifico. |