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Introdução: A neoplasia de colo uterino (NCU) é uma das neoplasias mais comuns na gestação (0,8-1,5/10.000 nascimentos), e a principal forma de diagnóstico é o rastreamento citológico. A NCU na gestação demanda uma complexa avaliação, que deve considerar idade gestacional (IG), interrupção ou seguimento da gestação, atraso no início do tratamento, via de parto e tipo de tratamento. Descrição do caso: V.S., 32 anos, primigesta, IG de 10 semanas, sem comorbidades prévias, sexarca aos 18 anos, uso de anticoncepcional oral combinado por 10 anos. Realizou colpocitologia oncótica e foi encaminhada ao serviço de patologia cervical após biópsia de colo uterino com resultado de carcinoma de células escamosas microinvasivo. À colposcopia, observou-se zona de transformação anormal grau maior ocupando os quatro quadrantes do colo uterino com atipia vascular discreta, iodo negativo. Ao toque vaginal (TV), útero compatível com 10 semanas de gestação. Ausência de linfonodomegalias. Paciente prosseguiu seguimento no pré-natal e no ambulatório de patologia cervical e realizou cesariana eletiva com 39 semanas. Noventa dias após a cesariana, à colposcopia, observou-se colo uterino com extensa área de epitélio acetobranco denso com atipias vasculares e sangramento de contato, com propagação desse epitélio para o terço superior da vagina, iodo negativo. Ao TV, colo uterino endurecido, 3 cm. Nova biópsia confirmou carcinoma de células escamosas invasivo, moderadamente diferenciado. Foram realizadas tomografias de tórax, abdômen e ressonância da pelve, que mostraram estadiamento IIA. A paciente foi encaminhada ao serviço de oncologia para quimioterapia e radioterapia, onde segue em acompanhamento. Conclusão: A colposcopia é um procedimento que requer habilidade quando executado em gestantes. Lesões precursoras da NCU devem ter manejo conservador durante a gravidez pelo baixo risco de progressão para lesão invasora. O tratamento da NCU invasora depende do estadiamento, da idade gestacional e do desejo da paciente. No 1º trimestre, sendo uma neoplasia operável, pode-se optar pela cirurgia de Wertheim-Meigs com feto in situ. Nos casos inoperáveis, radioterapia seguida de esvaziamento uterino. Do 2º trimestre em diante, a tendência é aguardar a maturidade fetal, interromper a gestação por parto cesáreo e realizar o tratamento. Até o estádio IA2, o parto vaginal não altera o prognóstico materno. A cesariana é indicada do estádio IB1 em diante, pelo aumento do risco de laceração grave e hemorragia de difícil controle. O manejo da NCU em gestantes é desafiador, haja vista a gravidade da doença e as implicações éticas relacionadas. Enfatiza-se a importância do rastreamento de todas as gestantes com 25 anos ou mais no início do pré-natal. |