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O presente artigo busca evidenciar o método de construção imagético empregado pelo poeta Péricles Eugênio da Silva Ramos (1919-1992) em dois de seus poemas: “Propiciação” e “Elegia à lua dos olhos de prata”, ambos presentes na obra Lamentação floral, de 1946. A análise específica destes poemas – de um dos mentores da “Geração de 45” - se dá a partir de um depoimento feito pelo próprio poeta à Revista de Poesia e Crítica (ano VIII, número 10, 1984), em que ele descreve a recepção de sua obra pelo poeta-crítico Mário de Andrade, em bilhete encontrado no acervo deste último, e nunca remetido em vida a Péricles Eugênio. Logo no início do depoimento, afirma Péricles Eugênio: “Notara eu que certos de meus poemas, como ‘Propiciação’, que seguiam o princípio de economia do poema ou do poema como unidade, cada estrofe, relacionando-se com o todo e o todo com cada estrofe, haviam sidos apreciados, ao passo que outros, elaborados mais tarde, eram considerados ‘herméticos’” (RAMOS, p. 69, 1984). Segundo o poeta, o hermetismo se dava “porque eu me movia ou por liames que ficavam em meu espírito ou então por símbolos puros, para mim transparentes, mas que podiam não o ser para os leitores” (RAMOS, p. 69, 1984). Caso próximo do que ocorre no poema “Elegia à lua dos olhos de prata”, que para Mário de Andrade não possuía uma “organicidade de composição”, ou seja, as estrofes eram construídas de forma descontínua, como um complexo de imagens justapostas. Assim, o que pretendemos neste estudo é demonstrar no poema “Propiciação” esta relação entre a parte e o todo, e a economia do poema proposta pelo poeta em sua “micro-poética” presente no depoimento. E, por outro lado, evidenciar a descontinuidade imagética das estrofes apontadas por Mário de Andrade no poema “Elegia à lua dos olhos de prata” como método de composição do poema. |