Vozes consoantes, Vozes dissonantes. Pina e Melo e a Cultura Literária do século XVIII: sujeito autoral, polémica e poéticas
Autor: | Duarte, Marta Isabel Ricardo Marecos |
---|---|
Přispěvatelé: | Pereira, Paulo Jorge da Silva, Franco, José Eduardo |
Jazyk: | portugalština |
Rok vydání: | 2021 |
Předmět: | |
Zdroj: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP) instacron:RCAAP |
Popis: | Tese de doutoramento em Literatura de Língua Portuguesa, apresentada ao Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. RESUMO Com o objetivo de revisitar o séc. XVIII no âmbito da historiografia literária através da obra de Francisco de Pina e Melo, este estudo entronca em dois marcos de análise a que se associam duas facetas distintas do autor: o poeta e o teorizador da literatura. De um lado, propõe-se o estudo da sobrevivência do legado barroco na sua mais significativa obra de poesia (As Rimas, 1726); do outro, o estudo do campo da doutrinação estética, em que assume relevo o diálogo com os modernos comentadores europeus da Poética e, na sua esteira, os críticos e intelectuais portugueses de meados de Setecentos. No intuito de questionar uma leitura sequencial da evolução das correntes estéticas, determinante na projeção de uma ideia de rutura no trânsito da cultura barroca para a da Ilustração (Mendes dos Remédios, Hernâni Cidade, Saraiva e Lopes, etc.), conferimos especial atenção à formação de paradigmas estéticos e de pensamento crítico no âmbito das academias literárias do séc. XVIII, assinalando o debate entre antigos e modernos espelhado na evolução das diferentes perspetivas que em certo momento se sobrepõem. Como tal, afigurou-se-nos relevante indagar acerca da associação do poeta montemorense com a forma mentis do novator. Em que argumentos se funda a reação anti-barroca que configura uma inovação no campo literário de meados do séc. XVIII, e de que modo esta é recebida pelos conservadores da velha ordem barroca estabelecida? Como se configuram a poesia e pensamento estético de Pina e Melo no seio do confronto entre códigos fundados sobre noções de estilo divergentes e, simultaneamente, diferentes conceções da herança clássica. De que modo o poeta responde, teoricamente, ao “novo gosto” neoclássico, e como procura adaptar a “simplicidade francesa” e os modelos do arcadismo na sua prática poética? Qual é o resultado desse esforço conciliatório, que coloca no centro das querelas da Ilustração dois tipos de conceção estrutural do poema épico, um assente na alegorese e varietas barroca, e outro fundado nos princípios aristotélicos de verosimilhança e unidade? Nas reações de Melo aos diferentes julgamentos dirigidos às suas obras, é possível delinear a formação de uma consciência autoral, paralela da caracterização que o poeta faz do seu próprio estilo literário, num contexto em que o receio de difamação pessoal surge especialmente em relevo e determina uma idealização tanto do poeta como do crítico. Analisaremos, neste domínio, também a emergência de diferentes tipos de crítica e de público. O estudo do livro d’As Rimas I, II e III permite-nos, por sua vez, entender especificidades do código barroco de influência gongórica em Portugal. Veremos como o tenebrismo fúnebre e a melancolia “negra” na lírica de Melo, a par de outros elementos estruturais, evidenciam a presença de um subjetivismo que surge associado à construção e projeção de uma imagem autoral marcada. À luz da poesia de Pina e Melo, pode dizer-se que a ênfase dada ao “estilo” e ao seu ornato, na lírica da 1.ª metade do séc. XVIII, se coaduna com a progressiva autonomização do campo literário na Europa moderna, traduzindo um trabalho que tem no horizonte uma singularização do autor, em busca de uma originalidade que lhe garanta um lugar de destaque no Parnaso. A problemática do autor afigura-se, pois, configuradora de um estudo que se propõe analisar as interações entre sujeito e instituição literária no quadro da sedimentação do pensamento moderno na literatura e cultura portuguesas, colocando em foco o jogo de espelhos patente no diálogo entre Melo e os seus críticos. ABSTRACT This study’s objective is to revisit the eighteenth century’s Portuguese literary historiography through the work of Francisco de Pina e Melo by developing two frameworks of analysis that link two distinct aspects of the author: the poet and the literary theorist. From Francisco de Pina e Melo’s work as a poet, we pull his most significant contribution titled As Rimas, which was published in 1726 and survives as a prime example of Baroque literature. In exploring his work as a literary theorist, we will dig deep into the field of aesthetic indoctrination, as we review the dialogue of modern European poetics commentators and Portuguese critics which came in the wake of prominent mid-eighteenth century Portuguese intellectuals. In order to discuss a sequential reading of the evolution of the eighteenth century’s aesthetic movements that promotes the idea of a break in the transition from Baroque culture to that of Enlightenment (Mendes dos Remédios, Hernâni Cidade, Saraiva e Lopes, among others), we will base our inquiry in the form of aesthetic and critical thought paradigms within the literary academies, marking the debate between the old and the new mirrored in the evolution of the different perspectives that for a time overlapped. As such, it seems relevant to inquire into the relation between Pina e Melo and the novator’s mindset. It needs to be understood what the basis for the anti-baroque reaction is and in what terms it innovated the literary field of the mid-eighteenth century. Also, we need to consider how the anti-baroque reaction was received by the conservatives in the old established baroque order and how it shaped Melo’s poetry and aesthetic thought within the midst of confrontation between codes based on divergent notions of style and different conceptions of the classical heritage. Moreover, we intend to explored how the poet theoretically responded to the “new” classical taste and how he sought to adapt French simplicity and neoclassicism in his poetry. As the poet tries to reconcile these different influences, he creates something different, that can be understood in the context of Enlightenment’s quarrels over the structural conception of epic fiction; one based on the concept of Baroque allegory and Baroque varietas concept and the other based on the Aristotelian principles of verisimilitude and unity. As a reader, we can begin to see Melo’s authorial consciousness in reaction to the different criticisms directed at his work, and alongside this reaction to criticism his own characterization of his literary style, which, given the context, appears fearful of personal defamation and places a focus on building an idealized portrait of the poet and the critic. In connection to this, we will also analyze the emergence of different types of critics and audiences in regards to his work. The study of the book As Rimas I, II and III allows us to understand the nature of the Gongoric influence on the Baroque code in Portugal. We will see how funeral gloom and dark melancholy in Melo’s lyric poetry, along with other structural elements, are evidence of a subjectivism, which is connected with the building and projecting of a distinct authorial image. The emphasis given to ornate style and its grand embellishments in the Portuguese lyric poetry in the first half of the eighteenth century, which Melo was a well-known practitioner of, is consistent with the progressive autonomy of the literary field in modern Europe, preparing a path for future works which put the focus on the singularity of the author who was searching for an originality, what would guarantee him a prominent place in Parnassus. The author’s problem gives shape to a study whose purpose is to examine the interactions between the subject and the literary establishment in the context of the sedimentation of modern thought in Portuguese literature and culture, while placing a special focus on the game of smoke and mirrors which characterized the dialogue between Melo and his critics. |
Databáze: | OpenAIRE |
Externí odkaz: |