As dádivas de Medeia : por uma teoria das formas de reciprocidade
Autor: | Marques, Rafael |
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Přispěvatelé: | Nunes, João Arriscado, Ferreira, José Maria Carvalho |
Jazyk: | portugalština |
Rok vydání: | 2002 |
Předmět: | |
Zdroj: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP) instacron:RCAAP |
Popis: | Doutoramento em Sociologia Económica e das Organizações Actualmente existe um interesse crescente pelo conceito de reciprocidade. No entanto, o paradigma da reciprocidade, que é usado simultaneamente por antropólogos e economistas experimentais, tende a ser míope e limitado ou à explicação de acções altruístas ou a modos de resolução de problemas de agência. Conceitos como homo donator ou homo reciprocans representam o desenvolvimento de uma nova abordagem que tenta ultrapassar as principais dificuldades causadas pelo modelo padrão usado pelos economistas, sendo, no entanto, incapaz de oferecer uma explicação geral para as diferentes expressões de reciprocidade. De forma a fazer avançar o projecto de uma teoria geral das formas de reciprocidade, argumentarei, nesta dissertação, que o conceito de reciprocidade pode ser usado como um importante instrumento teórico destinado a produzir avanços no campo sociológico. Justificarei a minha posição, com base em 10 proposições. Em primeiro lugar, a reciprocidade é um instrumento simples e parcimonioso que passa o teste da navalha de Ockham. Em segundo lugar, a reciprocidade é uma construção poderosa que explica quer as retaliações, quer as dádivas que estão incrustadas nas transacções sociais. Em terceiro lugar, a reciprocidade evita as armadilhas causadas pela consideração dos sistemas de motivação (o argumento da navalha de Sorokin). Em quarto lugar, a reciprocidade explica as razões que justificam que sistemas de confiança como o blat russo, o guanxi chinês ou o girijaponês tenham evoluído de forma diferente. Em quinto lugar, a reciprocidade oferece uma teoria do valor que pode ser usada de modo a evitar distinções espúrias entre dons e mercadorias, explicando os mecanismos de conversão que os transformam uns nos outros. Em sexto lugar, a reciprocidade torna claro o porquê de necessitarmos de hiatos entre dádivas e retribuições (seja em termos de dons positivos e heranças, seja em termos de vingança e de retaliação). Em sétimo lugar, a reciprocidade dá-nos pistas sobre as razões que justificam a ocorrência de comportamentos aparentemente frágeis ou irracionais (como preferir menos a mais) e o porquê de eles serem, por vezes, evolutivamente estáveis. Em oitavo lugar, a reciprocidade torna claras as razões que levam a que um dom puro dê origem à estagnação económica e a sistemas sociais paroquiais. Em nono lugar, a reciprocidade é um instrumento poderoso de explicação da natureza sumptuária e paroxísmica das relações sociais estabelecidas entre pares. Em décimo lugar, a reciprocidade clarifica as razões que conduzem à estabilidade de hierarquias sociais rígidas, dominadas por relações simbióticas. We are currently witnessing a widespread interest in the concept of reciprocity. However, the so-called reciprocity paradigm used by anthropologists and experimental economists alike tends to be one-sided and limited either to the explanation of altruistic actions or to ways of solving agency problems. Concepts such as homo donator or homo reciprocans represent the development of a new approach that tries to overcome the main difficulties caused by the standard model used by economists, failing however to offer a general explanation to the different reciprocity expressions. In order to advance the project of a general theory on the forms of reciprocity, I'll argue, in this dissertation, that the concept of reciprocity can be used as an important theoretical device to produce further advancements in the sociological field. I'll justify my claim based on 10 hypothetical statements. First, reciprocity is a very simple and parsimonious instrument that passes the Ockham's razor test. Second, reciprocity is a powerful construction that explains both retaliation and gifts embedded in social transactions. Third, reciprocity avoids the pitfalls caused by the consideration of motivation systems (the Sorokin's razor argument). Fourth, reciprocity explains the reasons why trust systems like the Russian blat, the Chinese guanxi or the Japanese gin evolved in different ways. Fifth, reciprocity offers a value theory that can be used to avoid the spurious distinction between gifts and commodities, explaining the conversion mechanisms that transform one into another. Sixth, reciprocity makes it clear why we need lags between gifts and retributions (be it in terms of positive gifts and bequests, be it in terms of revenge and retaliation). Seventh, reciprocity gives us a hint on the reasons why apparently fragile or irrational behavior (like preferring less to more) is justifiable and, sometimes, evolutionary stable. Eight, reciprocity makes it clear why a pure gift leads to economic stagnation and parochial social systems. Ninth, reciprocity is a powerful instrument to explain the sumptuous and paroxysmic nature of the social relations established between peers. Tenth, reciprocity clarifies the reasons that lead to the stability of rigid social hierarchies dominated by symbiotic relationships. |
Databáze: | OpenAIRE |
Externí odkaz: |