O intelectual, o artista e as massas na cultura portuguesa finissecular

Autor: Peixinho, Ana Teresa, Dias, Luís Augusto Costa
Jazyk: portugalština
Rok vydání: 2018
Zdroj: Revista Estudos do Século XX; No. 18 (2018); 135-151
Revista Estudos do Século XX; N.º 18 (2018); 135-151
ISSN: 1645-3530
1647-8622
DOI: 10.14195/1647-8622_18
Popis: During the 19th century, educated European elites participated extensively in the squabbles and discussions promoted in and by the press, and we cannot write the history of contemporary culture without relating it tothe development of public space over that century and in its transition to the 20th century. However, this alliance between the man of letters and the press – a typical device of the 19th century public sphere that, in fact, would give rise to the name “publicist” in the second half of the century, corresponds to a metamorphosis of the “public writer” status in classical romanticism – soon began to creak as the public sphere was influenced by the industrialisation and massification of cultural objects, a process initiated in the United States in the second half of the century, the echo of which in France was closely accompanied by the historical evolution in Portugal. It was against this combined backdrop, from the last quarter of the Portuguese 19th century, of a change in the market of cultural assets, of the appearance of a urban culture of the masses and of crisis de affecting the educated elites, especially in the literary field, that the figureof the “artist” slowly emerged as an alternative to the diffused figure of the “man of letters” triggered in the last decade of the 19th century. The reading of Fradique Mendes – half character, half author, proto-heteronym in Eça de Queiroz’s fiction – and of Fradiquism as an ideology, we note its symbolic value as the last attempt to overcome the death of the 19th century intellectual through the affirmation of the artist’s role. In other words, Fradique Mendes appears, in a context of emerging massification, a metaphor of thecrisis affecting the old intellectual paradigm of the 19th century, which, pursuing a “lost aura of culture”, wavers between the silence of giving up, as defended by Eça de Queirós, who saw himself as a kind of “cenobite”, and the chance of the artist building a new expression of the educated elite.
Durante o século XIX, as elites cultas europeias participaram amplamente das querelas e debates fomentados na e pela imprensa, não sendo possível fazer uma história da cultura contemporânea sem a pensar à luz da evolução do espaço público ao longo desse século e na sua transição para o século xx. Contudo, esta aliança entre o homem de letras e a imprensa – expediente característico da esfera pública oitocentista que, aliás, deu origem à designação de «publicista» na segunda metade do século, correspondendo a uma metamorfose do estatuto do «escritor público» do romantismo clássico – rapidamente começou a dar sintomas de rutura, à medida que aquela esfera sofria a influência da industrialização e massificação dos objetos culturais, processo iniciado nos Estados Unidos na segunda metade do século e cujo eco em França foi acompanhado de perto pela evolução histórica em Portugal.Foi neste contexto conjugado, a partir do último quartel do século xix português, de alteração do mercado dos bens culturais, de emergência de uma cultura urbana de massas e de crise das elites cultas, em especial no campo literário, que lentamente surgiu a figura do «artista» como alternativa à figura difusa do «homem de letras», espoletada na última década de oitocentos. Numa leitura de Fradique Mendes − meio personagem, meio autor, proto-heterónimo na ficção queirosiana − e sobre o fradiquismo como ideologia, destaca-se o seu valor simbólico, como derradeira tentativa de superação da morte do intelectual oitocentista através da afirmação do papel do artista. Dito de outro modo, Fradique Mendes constitui-se, num contexto de massificação emergente, como metáfora da crise do velho paradigma de intelectual do século xix que, perseguindo uma «aura perdida da cultura», oscila entre o silêncio de uma desistência, afinal pugnada pelo próprio Eça de Queirós que assim se revia como uma espécie de «cenobita», e a hipótese da figura do artista construir uma nova expressão da elite culta.
Databáze: OpenAIRE