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Os objetivos desta pesquisa envolvem dois aspectos : por um lado, analisar a interferência da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS nas produções textuais de estudantes surdos em diferentes níveis de escolaridade, bem como demonstrar a restrita concepção de linguagem subjacente às metodologias de ensino de Língua Portuguesa para surdos, que acaba por intervir, de forma negativa, em seu aprendizado da mesma; e, por outro lado, a partir dessas constatações, buscar sistematizar alguns critérios de avaliação diferenciada para os surdos, em relação à língua portuguesa. A análise de dados baseou-se em uma pesquisa envolvendo a transcrição de textos sinalizados em LIBRAS, bem como textos escritos em língua portuguesa por estudantes surdos desde as séries iniciais do Ensino Fundamental até o Concurso Vestibular. O trabalho desenvolvido apresenta reflexões teóricas que envolvem as concepções de linguagem e de desenvolvimento humano propostas por BAKHTIN (1990,1992) e VYGOTSKY (1991), respectivamente, assim como a contribuição de estudos sócio-antropológicos da surdez desenvolvidos por SÁNCHEZ (1990, 1991) e SKLIAR (1997, 1998), como subsídio à análise de alguns dos principais encaminhamentos metodológicos realizados na área da surdez. Com base nas pesquisas de FELIPE (1993, 1998), FERREIRA BRITO (1990,1993,1995,1998) e QUADROS(1995,1997), lingüistas brasileiras que vêm desenvolvendo uma teorização específica em torno da LIBRAS, direcionou-se a análise dos dados em seus aspectos morfo-sintático-semânticos, realizando-se a análise comparativa dos textos produzidos em português. Ficou evidente a interferência da LIBRAS nos textos dos surdos, principalmente no que se refere aos aspectos relacionados à pessoa, artigos, elementos de ligação, verbos, organização sintática, gênero e número. Além desta, em alguns casos, pudemos comprovar como a inadequação das metodologias de ensino acabam por gerar um conhecimento lingüístico superficial da língua portuguesa, baseado em generalizações inapropriadas ou em manifestação de comportamentos completamente aleatórios ao escrever. Os critérios de avaliação diferenciada propostos não pretendem se constituir em um conjunto fechado e consensual sobre as possibilidades lingüísticas dos surdos em relação à escrita, senão em um referencial para assentarmos as bases para uma discussão mais ampla sobre a implementação de políticas educacionais voltadas ao reconhecimento das diferenças. |