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Resumo Este artigo pretende destacar o papel dos clubes e associações desportivas como espaços de resistência em contextos autoritários, partindo do caso paradigmático de um modesto clube de futebol dos arredores de Lisboa – o Estrela da Amadora. Os vínculos entre desporto e política estão bem documentados. Contudo, essas ligações são usualmente sublinhadas recorrendo a momentos e gestos de grande intensidade dramática, nos quais a insubordinação e o inconformismo são expostos de forma pública e arrojada. Alternativamente, deslocando a nossa atenção para as actividades desenvolvidas por este clube ao longo de uma década, conseguimos apurar as estratégias quotidianas de resistência que este fomentava. A sede social do Estrela, um dos mais relevantes espaços de sociabilidade da cidade da Amadora, albergava uma biblioteca com livros proibidos, sessões de jogo ilegal e manifestações culturais assinadas por alguns dos mais notáveis “subversivos” da época. O próprio boletim do clube era usado para promover debates à margem das suas actividades desportivas, assumindo por vezes tons claramente programáticos. Nada disto era produto do acaso. A partir da década de 1950, a direcção do clube foi assumida por oposicionistas que o usaram como plataforma para “fintar” os constrangimentos impostos pela ditadura à liberdade de expressão e associação. Marcados pelo acossamento assíduo da polícia política e por conflitos com a Igreja, estes anos retratam as possibilidades que a popularização do desporto abria à associação política, especialmente em tempos de repressão. Apesar de ser, nalguns domínios, um caso excepcional, esperamos atestar que o estudo de clubes e associações locais pode revelar uma cultura de resistência que não se encontrava confinada a partidos ou associações políticas tradicionais. Trata-se de explorar um objecto de estudo historiograficamente menorizado, analisando fontes impressas, materiais e orais “esquecidas” no momento de fazer a história da oposição e resistência ao Estado Novo. Resumen Este artículo pretende destacar el papel de los clubes y asociaciones deportivas como espacios de resistencia en contextos autoritarios, partiendo del caso paradigmático de un modesto club de fútbol de la periferia de Lisboa - Estrela da Amadora. Los vínculos entre el deporte y la política están bien documentados. Sin embargo, estos vínculos suelen subrayarse recurriendo a momentos y gestos de gran intensidad dramática, en los que la insubordinación y el inconformismo se exponen pública y audazmente. Por otro lado, al trasladar nuestra atención a las actividades desarrolladas por este club a lo largo de una década, pudimos comprobar las estrategias cotidianas de resistencia que promovía. La sede social de Estrela, uno de los espacios de sociabilidad más relevantes de la ciudad de Amadora, acogió una biblioteca con libros prohibidos, sesiones de juego ilegal y manifestaciones culturales firmadas por algunos de los más notables “subversivos” de la época. El propio boletín del club se utilizó para promover debates al margen de sus actividades deportivas, adquiriendo a veces tintes claramente programáticos. A partir de los años 50, la gestión del club fue asumida por opositores del régimen que lo utilizaron como plataforma para “saltarse” las limitaciones impuestas por la dictadura a la libertad de expresión y de asociación. Marcados por el acoso de la policía política y los conflictos con la iglesia, estos años retratan las posibilidades que la popularización del deporte abrió a la asociación política, especialmente en tiempos de represión. A pesar de ser, en algunos ámbitos, un caso excepcional, esperamos dar testimonio de que el estudio de los clubes y asociaciones locales puede revelar una cultura de resistencia que no se limitaba a los partidos o asociaciones políticas tradicionales. El objetivo es explorar un objeto de estudio historiográficamente minorizado, analizando fuentes impresas, materiales y orales “olvidadas” en el momento de hacer la historia de la oposición y resistencia al Estado Novo. Abstract This paper aims to stress the role sporting clubs play in the struggle against authoritarian regimes, using as a paradigmatic case study a small football club in the outskirts of Lisbon: Estrela da Amadora. The ties between sports and politics are well established. However, these linkages are usually highlighted resorting to moments and gestures of great dramatic intensity when nonconformist attitudes are publicly and boldly exposed. By turning our attention to the activities conducted by a club during a decade long span we get a clearer notion of the everyday strategies of resistance that were put into place. Estrela’s club house was one of the most important venues for social gatherings in the town. It was home to a library, illegal gambling, and cultural performances, some of them performed by several of the most notable “subversives” of the time. The club’s bulletin was also used to promote debates marginal to any sporting activity, some of them with not-so-subtle political undertones. During the 1950’s, the club’s board was stormed by oppositionists, eager to use it as a platform to “dribble” the constraints imposed by the dictatorship. From raids of the political police to conflicts with the church, these years portray the possibilities that the popularization of sports could open to political association, especially in times of repression. Albeit in some respects an exceptional case, we hope to demonstrate that the study of local clubs can reveal a broader culture of resistance, one that is not confined to parties or traditional political associations. To surmise, we seek to explore an object that is usually marginalized in historiographical debates, rescuing a set of documental, material, and oral sources of great relevance for the history of everyday resistance to the Portuguese Estado Novo. |