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Este ensaio se propõe a realizar uma leitura filosófica da obra A obscena Senhora D (2018), da autora Hilda Hilst, a partir de três eixos centrais: a morte, o corpo e a família. Tal tríade, a princípio, parece não se tocar, mas, no texto de Hilda, dissolve-se em pontos temáticos que convergem por meio dos delírios filosóficos da protagonista. Para pensar essas questões, traço um paralelo entre as reflexões da personagem e as ideias desenvolvidas por Georges Bataille, na obra O Erotismo (2017). Aproximo, dessa forma, o conceito de “derrelição”, que permeia o texto da autora, com as noções de “continuidade” e “descontinuidade”, desenvolvidas por Bataille ao longo do seu ensaio, a partir de uma base filosófica. Assim como em Hilda Hilst o sentimento de derrelição da protagonista sintetiza a angústia diante da percepção da situação de abandono na qual o homem se encontra, em Bataille, a angústia ocorre a partir da percepção da descontinuidade entre o indivíduo e o outro, do abismo que nos separa e interfere em nossas tentativas de contato. Incapazes de comunicar plenamente nossas experiências, compartilhamos a sensação de vertigem ao baixar os olhos para o precipício. Nos dois autores, morte, corpo, erotismo e sagrado surgem como pontos através dos quais a derrelição se rompe, ainda que momentaneamente, e por meio dos quais a continuidade pode ser experimentada. |