Lista vermelha da flora vascular de Portugal continental

Přispěvatelé: Carapeto, André, Francisco, Ana, Pereira, Paulo, Porto, Miguel
Jazyk: portugalština
Rok vydání: 2020
Předmět:
Popis: AUTORES DOS TEXTOS DAS FICHAS DE AVALIAÇÃO André Carapeto | Paulo Pereira | Carlos Aguiar | Miguel Porto | Paulo Ventura Araújo | Jan Jansen | Ricardo Quinto- -Canas | Anabela Amado | Sílvia Ribeiro | Udo Schwarzer | Estêvão Portela-Pereira | Alexandre Silva | Mauro Raposo | Rute Caraça | Catarina Meireles | Tiago Monteiro- -Henriques | Paulo Alves | Ana Caperta | Joaquim Pessoa | Susana Tápia | Ana Júlia Pereira | Sónia Malveiro | Adelaide Clemente | Dalila Espírito-Santo | Duarte Silva | Sergio Chozas | Cristina Tauleigne Gomes | Luís Brás | Manuel João Pinto | Carlos Pinto Gomes | Sara Lobo Dias | Vasco Silva | Carla Pinto Cruz | Isabel Marques | David Draper | Duarte Frade | Ester Serrão | José Brites Monteiro | José Carlos Costa | José Luís Vitorino | Luísa Borges | Maria Cristina Duarte | Paula Canha | Francisco Barreto Caldas | Paulo Silveira | António X. P. Coutinho | Carlos Vila-Viçosa | Ivo Rodrigues | João Paulo Fonseca | Susana Neves | Américo Pereira | Ana Francisco | Carlos Neto | João Farminhão | João Neiva | Patricia María Rodríguez- -González | Bruno Moreira | Cassiano Monteiro | Duarte Victorino Marques | Filipe Covelo | Francisco Areias | Jael Palhas | José Manuel Rosa Pinto † | Paulo Eduardo Cardoso | Henrique Nepomuceno Alves | Jorge Paiva Uma lista vermelha é uma lista das espécies cujo risco de extinção foi avaliado para uma determinada região geográfica através de uma metodologia padronizada e com base na melhor informação disponível à data. Esta lista sinaliza as espécies ameaçadas de extinção num determinado momento, e inclui, para cada espécie, a sua categoria de risco e a justificação da atribuição dessa categoria. É o resultado de um processo de avaliação rigoroso e objetivo, assente no sistema de critérios e categorias da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza), que é realizado sobre um grupo de espécies, fornecendo informação atualizada sobre o estado de conservação dessas espécies, a sua distribuição, o tamanho da população, o habitat e a ecologia, as ameaças e pressões a que estão sujeitas e as ações de conservação que é necessário realizar para a sua preservação. Neste volume apresenta-se a primeira Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental, fruto do processo de avaliação do risco de extinção de 630 espécies de plantas nativas de Portugal continental, realizado entre 2016 e 2019, no âmbito de um projeto homónimo (com a referência POSEUR-03-2215-FC-000013) coordenado por duas associações científicas sem fins lucrativos – Sociedade Portuguesa de Botânica e Associação Portuguesa de Ciência da Vegetação (PHYTOS) –, em parceria com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, IP, e com a colaboração essencial de um vasto conjunto de voluntários de todo o país. Além do processo de avaliação do risco de extinção das plantas propriamente dito, durante o qual se produziram fichas de avaliação para as 630 espécies, o projeto incluiu uma componente prévia de compilação de dados históricos de ocorrência das plantas, bem como um importante trabalho de recolha de novos dados no terreno, relativos ao estado atual dos núcleos populacionais de muitas espécies e às pressões e ameaças que as afetam. No presente volume são apresentados uma explanação detalhada da metodologia usada durante os trabalhos, uma análise global dos resultados obtidos e um resumo muito sucinto das fichas de avaliação produzidas somente para as espécies que se verificou estarem hoje ameaçadas ou extintas no território continental português – ou seja, apenas 400, das 630 que foram avaliadas. A versão integral das fichas de avaliação de todas as plantas avaliadas é disponibilizada apenas em suporte digital. Os resultados da avaliação – que incidiu unicamente em cerca de 1/₅ da flora vascular de Portugal continental – são alarmantes: 381 espécies de plantas foram avaliadas numa das três categorias de ameaça da UICN – Vulnerável (VU), Em Perigo (EN) e Criticamente em Perigo (CR) – e 19 espécies foram consideradas extintas em Portugal, sendo que duas destas estão mesmo extintas a nível mundial. Ainda mais alarmante é o facto de 84 das espécies ameaçadas se enquadrarem na categoria de ameaça mais grave [«Criticamente em Perigo (CR)»], o que quer dizer que são espécies que estão mesmo à beira da extinção em Portugal, e que, se as pressões e ameaças se mantiverem, irão provavelmente desaparecer no prazo de poucos anos. Acresce que 14 destas espécies Criticamente em Perigo não foram sequer reencontradas no território durante os trabalhos de prospeção realizados, podendo estar já extintas. De entre as espécies ameaçadas, 128 foram classificadas como «Em Perigo (EN)» e 169 como «Vulnerável (VU)». Das restantes plantas avaliadas, 106 espécies cabem na categoria «Quase Ameaçada (NT)», 105 foram classificadas na categoria «Pouco Preocupante (LC)» e para 19 espécies não se obtiveram dados suficientes para proceder a uma correta avaliação do seu risco de extinção, pelo que foram integradas na categoria «Informação Insuficiente (DD)». As causas deste cenário não surpreendem. A ação humana direta, nas suas mais variadas vertentes, encabeça a lista de ameaças identificadas que estão a contribuir para o declínio e a extinção de muitas espécies da nossa flora. São exemplos os desenvolvimentos urbano e de infraestruturas (principalmente no litoral), a expansão da agricultura industrial intensiva em larga escala (em vastas áreas do Alentejo e do Algarve, mas também no Oeste e Centro-Norte) e as más práticas de gestão da vegetação (como o uso de herbicidas e as desmatações recorrentes). Estas e outras ações humanas são responsáveis pela destruição irreversível ou intensa degradação de vastas áreas de habitats naturais ou seminaturais, dos quais muitas das plantas ameaçadas dependem. O mais preocupante é que, na generalidade dos casos, estas ameaças tenderão a aumentar ainda mais no futuro como reflexo do desenvolvimento económico de vários setores, pelo que é fundamental tomar medidas ativas e urgentes, ao nível do ordenamento, para as conter ou reverter. Mas também as ameaças ditas «naturais» têm um papel importante em várias espécies – «naturais» entre aspas – porque, na realidade, a maioria é também um reflexo da atividade humana. Destas, destacam-se as alterações climáticas e a expansão de espécies exóticas invasoras, que ameaçam alterar (ou já alteraram) as condições ambientais e ecológicas de várias áreas do país, provocando a regressão gradual do habitat de muitas espécies, que levará, ou já levou, ao seu completo desaparecimento. É nas altas montanhas e nas zonas húmidas que se anteveem os impactos das alterações climáticas em maior escala, devido ao aumento de eventos de secas extremas e à diminuição da precipitação na forma de neve. Já as espécies exóticas invasoras afetam uma grande diversidade de ambientes, mas são principalmente graves em zonas muito perturbadas pelo Homem, como, por exemplo, em áreas sujeitas a incêndios recorrentes ou sujeitas a atividade florestal intensiva, e também em vastas extensões do litoral. O cenário não é seguramente o melhor, mas as bases para um futuro mais auspicioso foram lançadas com o trabalho que aqui é apresentado. Mesmo tratando-se de um trabalho parcial (por não ter incidido sobre toda a flora do território português), aqui se identificam claramente muitos casos em que é necessário e urgente agir e se propõem formas de o fazer. Por exemplo, muitas das medidas identificadas como necessárias para melhorar o estado de conservação das espécies ameaçadas passam pela recuperação e gestão do habitat (que pode incluir o controlo de espécies invasoras) e pelo reforço da aplicação da legislação já existente. Há também muitos casos que necessitam da definição de novas áreas de proteção, o que é indicativo de que as áreas que estão atualmente sob algum tipo de proteção legal não são suficientes para garantir a persistência de todas as espécies ameaçadas. Em paralelo com estas medidas, muitos casos foram identificados em que se recomenda a salvaguarda do património genético – no fundo, uma espécie de «seguro de vida», caso não seja possível atuar a tempo de travar os declínios observados –, havendo também muitos casos que necessitam de reforço populacional para contrariar ativamente o seu declínio. Ficou também patente o desconhecimento sobre a ecologia, a distribuição, o tamanho e as dinâmicas da população, as pressões e ameaças e a biologia de muitas espécies ameaçadas, o qual pode condicionar o bom planeamento de medidas de conservação, pelo que, em muitos casos, foram sugeridos estudos para melhorar o conhecimento desses aspetos. Neste contexto, mais de 100 espécies necessitam da elaboração de um plano de conservação dedicado, o que mostra que o estado atual dessas plantas é tão mal conhecido que precisa de ser estudado em detalhe, sob várias vertentes, para que se consiga almejar a sua conservação. A principal conclusão que parece configurar-se é que, na maioria dos casos, a coordenação entre as várias partes interessadas – que está muito facilitada, agora que existem dados sólidos, centralizados, sobre diversos aspetos das plantas e suas ameaças – e o ordenamento racional do território poderão garantir a conservação de muitas espécies. Noutros casos, nomeadamente espécies em situação de declínio populacional incontrolável, é preciso agir em modo de resgate, mas um adequado planeamento de prioridades e ações, aliado a uma boa alocação de recursos, deverá permitir a salvaguarda dessas plantas, e assim contribuir para travar a perda de biodiversidade no planeta info:eu-repo/semantics/publishedVersion
Databáze: OpenAIRE