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Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor em História Contemporânea Institucional e Política de Portugal Esta dissertação de doutoramento analisa a Primeira República enquanto construção política e na óptica da cultura política, articulando três momentos essenciais: a República imaginada antes do 5 de Outubro de 1910; a República no poder e a forma como foi gerida a diversidade política, nomeadamente a facção revolucionária; e por último a queda da República. O fio condutor deste trabalho é a ideia de que o movimento republicano foi mais do que o Partido Republicano Português – ainda assim formado por diferentes sensibilidades – sendo uma galáxia de organizações e uma polifonia, um movimento a várias vozes. Esta característica particular de um campo e de uma conjuntura política é essencial para a compreensão do princípio e do fim da Primeira República, regime que tem um papel central no imaginário político do século XX português. Não se pretendeu apresentar o objecto de estudo de forma monolítica, mas tratar as várias ideias do que devia ser, do que era e do que foi a República para os diversos agentes. Neste sentido, o trabalho começa por perceber como é que a República foi imaginada e em que contexto, como se articulava a galáxia republicana, dando atenção às convergências tecidas com outros movimentos. Assumindo que se vivia num período no qual as massas procuravam ter voz pública e política, analisámos as relações dos republicanos com o povo. O Partido Republico Português foi analisado, de modo a surpreender a sua dinâmica interna, bem como a forma como as classes populares foram arregimentadas. Interessou-nos estudar as diferentes formas de sociabilidade, para demonstrar como a capacidade de pensar a política se difundia na sociedade. Fazer passar a mensagem era central para o movimento e, assim, estudámos as diferentes formas de propaganda republicana e a constituição da imagem dos seus inimigos. Depois do 5 de Outubro de 1910, interessou-nos perceber como é que se construíram os significados e como é que as bases do regime foram lançadas, defendendo que estas construções políticas nos permitem a compreensão da dinâmica do regime. A conclusão equaciona a questão do velho e do novo no regime republicano, ou as diferentes formas de o entender, que motivaram as actuações políticas de diferentes agentes. Desconstruindo imagens simplistas da República criadas, sobretudo durante o Estado Novo, defendemos que o republicanismo, mau grado a ausência do sufrágio universal, deve ser entendido como uma etapa de um processo de democratização da sociedade portuguesa. |